quinta-feira, 3 de maio de 2018

MUDANÇA COM CRIANÇAS



ASPECTOS EMOCIONAIS
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MORAR EM PORTUGAL 

Diante da possibilidade de mudar de país com crianças, uma série de questões práticas nos ocupa: visto, passaporte, empresa para encaixotar os móveis, encerrar contratos de internet, pagar as contas pendentes, procurar escola e pediatra no novo destino. Em meio a esse turbilhão, muitas vezes acabamos não dando a atenção necessária ao universo emocional dos pequenos, que é imensamente afetado. Existe medo, existe luto, existe ansiedade. Tudo isso deve ser trabalhado com muito cuidado pela família e também pela rede de apoio ao redor da criança.

Quando me mudei pela primeira vez para o exterior, estava grávida de cinco meses. Saí do Brasil para as Filipinas e o desafio maior foi lidar com meu próprio medo do desconhecido. Agora, na segunda mudança, enfrento o desafio de lidar não só com minhas questões, mas com a adaptação do meu filho, que acabou de fazer três anos. Posso afirmar, sem dúvida alguma, que a a dificuldade é infinitamente maior, porque envolve a segurança emocional de um ser humano que ainda está construindo suas ferramentas para lidar com perdas e medos.

Filipe nasceu nas Filipinas e passou lá seus primeiros anos de vida. Foi onde fez seus primeiros amigo, onde aprendeu a reconhecer um fenótipo como familiar, onde aprendeu a falar, a andar, a estar no mundo. Tudo o que lhe era conhecido estava ali: babá, escola, vizinhos, parquinho.

E aí chegou a hora de virmos para a Austrália. A mudança foi conversada com ele, é claro, mas ainda assim tínhamos a sensação de que nosso pequeno não conseguia alcançar a dimensão do salto que nos aguardava. De repente, toda a nossa vida passou a girar em torno da mudança. Mamãe e Papai passaram a ser seres mais chorosos, melancólicos e preocupados, orbitando entre despedidas e providencias práticas. A babá também ganhou um quê de preocupação, carregando a ansiedade de não saber o que iria acontecer com sua rotina dali para frente.

Todas essas coisas que estavam no ar ganharam uma materialidade incontestável no dia em que a empresa de mudança chegou para encaixotar nossas coisas. Era chegada a hora de desmontar nossa casa, decorada com tanto carinho ao longo dos anos. Filipe viu seu quartinho ser desmontado e resumido a um punhado de caixas de papelão. No dia seguinte, restava o vazio.

– Mamãe, cadê meus brinquedos? Cadê minha caminha?

Eu tentava disfarçar o nó na garganta:

– Estão no navio, filho, indo para a nossa casa nova na Austrália.

– O Martin também vai para a Austrália? – ele perguntava, querendo saber se o melhor amigo do prédio iria se mudar conosco.

– Ele pode ir de férias sempre que quiser – eu respondia, segurando o choro.

E assim foram nossas conversas até o dia de embarcar. Lipe passou a alternar momentos extremamente doces e rompantes de agressividade, com gritos e birras além do comum. Ele por vezes me batia e me mordia. Essas reações ficaram mais intensas quando chegamos em Sydney e passamos duas semanas acampados num pequeno quarto de hotel. Foi tão estressante para todos nós que cheguei a pensar que não iríamos conseguir.

Nesse período, conversei bastante com amigas psicólogas e reuni algumas dicas para suavizar a dor desse luto que é a mudança. A criança pequena pode não compreender racionalmente o que está acontecendo, mas ela age como uma verdadeira esponjinha, captando tudo o que se passa ao redor.

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A coisa mais importante a ser fazer é explicar para a criança exatamente o que está acontecendo. No caso de crianças menores, um recurso muito interessante é o desenho. Quem me passou essa dica foi a madrinha do meu filho, que é psicóloga junguiana. Ela me sugeriu que eu desenhasse com ele a casa das Filipinas, a casa nova na Austrália, o navio levando os brinquedos dele. Assim fizemos e senti que isso deu uma concretude a algo que antes ficava no campo da abstração.

Outra atitude fundamental é acolher todo tipo de reação que as crianças trouxer. Veio agressividade? Então vamos olhar para isso. Pode ser que estejam te culpando pelo fato do mundinho deles estar se desfazendo. Cabe a nós, pais, criarmos um ambiente de segurança, onde toda emoção tem espaço.

O Lipe trouxe muito do medo. Coincidentemente ou não, durante o período de mudança ele começou a falar sobre monstros, fantasmas, bruxas e zumbis. Explicamos a ele que era só olhar bem nos olhos do monstro e dizer: eu não tenho medo! É natural ter medo diante de uma grande ruptura. Se nós, adultos, sentimos frio na barriga diante do desconhecido, imaginem os pequeninos! Zumbis e fantasmas são só uma forma encontrada para falar do incômodo diante de um ambiente todo novo e assustador.

Para suavizar esses desgastes e oferecer um porto seguro, não deixe de pedir às crianças que escolham alguns de seus brinquedos favoritos para levar na bagagem de mão. Esses objetos têm poderes quase mágicos e ajudam a dar segurança quando tudo parece se desfazer.

O ingrediente mais importante numa mudança é, sem dúvida, muito amor e acolhimento. Um belo dia essas sombras enormes na parede serão apenas parte da paisagem. E aí, talvez, seja a hora de mudar outra vez.

Fonte: Brasileirinhos pelo Mundo 


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